terça-feira, 24 de abril de 2018

TEORIA DO CINEMA 2

TEORIA DO CINEMA E O DOCUMENTÁRIO 02: FORMALISMO; ACADEMICISMO E DESCONSTRUCIONISMO

Cartaz do Filme Acossado de Jean Luc Godard

As teorias do cinema que sucederam o Realismo de Bazin e o formalismo de Arnheim (dentre outros), buscaram sua inspiração nos filmes do Formalismo Russo e na filosofia de crítica marxista de origem francesa. 

O academicismo de Chritian Metz utilizou conceitos da lingüística e da psicanálise para formular uma teoria acadêmica do cinema. 

O Desconstucionismo de Baudry et all, ideologizou a teoria do cinema importando as ideias de Althusser em relação aos Aparelhos Ideológicos do Estado, e mais tarde, importando a hermenêutica de Derrida.

Essas teorias desencadearam uma profusão de outras teorias críticas e de contracultura, que acabaram por isolar a a possibilidade de uma teoria Realista do Cinema e do Documentário. O Realismo passou a ser considerado como reacionário, conservador e positivista, associando-se a ele um valor negativo.

Robert Stam no livro "Introdução à Teoria do Cinema" explica a situação:  

"... a teoria do cinema, de modo geral, desenvolveu um discurso à esquerda de muitas outras disciplinas tradicionais, não apenas em razão de sua "conexão francesa", (...) mas também em virtude de seu surgimento em paralelo a disciplinas contraculturais como os estudos feministas, os estudos étnicos e os estudos da cultura popular. Como resultado, os estudos de cinema nunca chegaram a ser contaminados pelo conservadorismo reacionário que se havia entrincheirado em campos mais tradicionais como a literatura  e a história." (Stam, R. Introdução à Teoria do Cinema, 2003, pag. 214)

Ainda que essa explicação possa parecer muito bacana para uma cabeça "progressista" ou "revolucionária", o efeito foi devastador para outros tantos documentaristas que acreditavam na possibilidade de representação da realidade no cinema documentário. 

A bem da verdade os documentários continuaram a ser feitos tendo como objetos as coisas do mundo e na pior das hipóteses passou apenas a ser considerado como um dos pontos de vista sobre uma determinada situação real. Mas isso, por si só, no mundo acadêmico dos teóricos, já era motivo para se invalidar a conexão do documentário com o mundo real.

Na continuação vamos observar como resgatar teoricamente a conexão com a realidade, usando como ferramentas teóricas a Semiótica Americana de C.S.Peirce e a Teoria do Umwelt de Jacob von Uexküll.

Abaixo os slides da aula que trata das teorias do cinema:

https://drive.google.com/open?id=0BwRKMh2WAMEUX19WcmZfTlFJejQ
História do documentário, filmes importantes 02

Um dos filmes fundamentais para o Formalismo Russo é o filme de Dziga Vertov intitulado "O Homem com a Câmera de Cinema", um documentário de 1929 que mostra um dia na vida de uma cidade russa. 

Esse filme serviu de inspiração para os cineastas e teóricos franceses da geração desconstrucionista no final da década de 60 e início de 70.

Aqui em uma versão com a música da Alloy Orchestra (1995), existem outras mas eu acho que essa é a melhor música composta para esse filme.

É um ótimo filme, que apresenta a relação entre um cineasta, o documentário e realização do filme.


segunda-feira, 23 de abril de 2018

TEORIA DO CINEMA 1

TEORIA DO CINEMA E O DOCUMENTÁRIO 01: REALISMO E FORMALISMO


Esta postagem apresenta, resumidamente, as polêmicas existentes na Teoria do Cinema, relacionadas à possibilidade de Representação da Realidade pelos Filmes Documentários.





De um lado temos os teóricos que se dedicam ao estudo da forma cinematográfica, e que são chamados de formalistas. Para estes mais interessa a plasticidade das imagens e dos sons. Se o cinema é uma janela para o mundo, os formalistas estariam mais interessados na distorções e reflexos provocados pela disposição oblíqua do vidro dessa janela, do que no objeto
representado.

De outro lado, os teóricos que se dedicam ao estudo do cinema como meio para a redescoberta do mundo físico, estes são denominados de realistas. Para estes interessa como o mundo se apresenta e se faz representar no filme, permitindo que vejamos algo mais, que não percebemos quando olhamos ao mundo sem a intermediação do filme.
O conhecimento dessas posições teóricas a respeito do cinema é necessário para que se obtenha o repertório objetivo para a crítica das teorias sobre documentário, bem como para se compreender quais valores estão em jogo quando se defende uma posição ou outra.
O formalismo no documentário transforma-o em um objeto artístico; o realismo, por outro lado, transforma-o em um instrumento de investigação do mundo.





Para uma visão mais ampla dessas linhas teóricas na Teoria do Cinema é bem interessante a leitura do primeiro capítulo do livro de Philippe Dubois "O Ato Fotográfico". 
Aqui ele expõe as diferentes visões em relação ao realismo fotográfico; o autor localiza 3 grandes grupos de teorias desenvolvidas numa linha de tempo histórico.
De acordo com Dubois, são as seguintes concepções a respeito da Fotografia:
"1) a fotografia como espelho do real, o discurso da mimese, onde se faz referência à semelhança da imagem ao seu referente;
2) a fotografia como transformação do real, o discurso do código e da desconstrução, onde o efeito de realidade seria pura impressão do aparelho de base, não havendo a propalada neutralidade admitida em 1;
3) a fotografia como traço do real, o discurso peirceano do índice e da referência, onde se vê uma espécie de epistemologia em que a fotografia seria um ótimo exemplo, trata-se aqui de um resgate das dimensões de realidade presentes na fotografia."
(Dubois, O Ato Fotográfico, 1994, pag. 26)

Disponível no Capítulo 1 do livro O Ato Fotográfico:
"DA VEROSSIMILHANÇA AO ÍNDICE: Pequena retrospectiva histórica sobre a questão do realismo na fotografia"

https://drive.google.com/file/d/0BwRKMh2WAMEUZW5GYW16SDUzTkk/view?usp=sharing



História do Documentário, filmes importantes 01

Abaixo você encontra o link para o Filme Documentário Nanook do Norte de Robert Flaherty que foi exibido em 1922. Neste filme a polêmica do realismo x formalismo pode ser observada no fato de que o filme foi todo encenado, nas condições reinantes no ambiente gélido no Canadá.


As criticas dos teóricos resume-se ao fato de que isso não é um documentário pois ele foi encenado. As condições ambientais foram as mesmas nas quais os esquimós viviam (pelo menos uma década anterior à produção do filme); a compreensão do quê significa viver nesse lugar não carece de maiores explicações. 
Se a encenação fosse um diferencial para excluir-se um filme de sua  condição documental, seríamos obrigados a considerar de ficcional toda a produção científica que necessita selecionar e manipular seus objetos. A solução foi classificar o filme como um docudrama, para aplacar as mentes mais taxonômicas.






Nanook do Norte é um documentário de encenação, um dos mais importantes filmes da história dos documentários.