TEORIA DO CINEMA E O DOCUMENTÁRIO 01: REALISMO E FORMALISMO
Esta postagem apresenta, resumidamente, as polêmicas existentes na Teoria do Cinema, relacionadas à possibilidade de Representação da Realidade pelos Filmes Documentários.
De um lado temos os teóricos que se dedicam ao estudo da forma cinematográfica, e que são chamados de formalistas. Para estes mais interessa a plasticidade das imagens e dos sons. Se o cinema é uma janela para o mundo, os formalistas estariam mais interessados na distorções e reflexos provocados pela disposição oblíqua do vidro dessa janela, do que no objeto
representado.
De outro lado, os teóricos que se dedicam ao estudo do cinema como meio para a redescoberta do mundo físico, estes são denominados de realistas. Para estes interessa como o mundo se apresenta e se faz representar no filme, permitindo que vejamos algo mais, que não percebemos quando olhamos ao mundo sem a intermediação do filme.
O conhecimento dessas posições teóricas a respeito do cinema é necessário para que se obtenha o repertório objetivo para a crítica das teorias sobre documentário, bem como para se compreender quais valores estão em jogo quando se defende uma posição ou outra.
O formalismo no documentário transforma-o em um objeto artístico; o realismo, por outro lado, transforma-o em um instrumento de investigação do mundo.
Para uma visão mais ampla dessas linhas teóricas na Teoria do Cinema é bem interessante a leitura do primeiro capítulo do livro de Philippe Dubois "O Ato Fotográfico".
Aqui ele expõe as diferentes visões em relação ao realismo fotográfico; o autor localiza 3 grandes grupos de teorias desenvolvidas numa linha de tempo histórico.
De acordo com Dubois, são as seguintes concepções a respeito da Fotografia:
"1) a fotografia como espelho do real, o discurso da mimese, onde se faz referência à semelhança da imagem ao seu referente;
2) a fotografia como transformação do real, o discurso do código e da desconstrução, onde o efeito de realidade seria pura impressão do aparelho de base, não havendo a propalada neutralidade admitida em 1;
3) a fotografia como traço do real, o discurso peirceano do índice e da referência, onde se vê uma espécie de epistemologia em que a fotografia seria um ótimo exemplo, trata-se aqui de um resgate das dimensões de realidade presentes na fotografia."
(Dubois, O Ato Fotográfico, 1994, pag. 26)
Disponível no Capítulo 1 do livro O Ato Fotográfico:
"DA VEROSSIMILHANÇA AO ÍNDICE: Pequena retrospectiva histórica sobre a questão do realismo na fotografia"
NESTE LINK VOCÊ ACESSA O ARTIGO DE DUBOIS"DA VEROSSIMILHANÇA AO ÍNDICE" -1o. Capítulo do livro acima.
História do Documentário, filmes importantes 01
Abaixo você encontra o link para o Filme Documentário Nanook do Norte de Robert Flaherty que foi exibido em 1922. Neste filme a polêmica do realismo x formalismo pode ser observada no fato de que o filme foi todo encenado, nas condições reinantes no ambiente gélido no Canadá.
As criticas dos teóricos resume-se ao fato de que isso não é um documentário pois ele foi encenado. As condições ambientais foram as mesmas nas quais os esquimós viviam (pelo menos uma década anterior à produção do filme); a compreensão do quê significa viver nesse lugar não carece de maiores explicações.
Se a encenação fosse um diferencial para excluir-se um filme de sua condição documental, seríamos obrigados a considerar de ficcional toda a produção científica que necessita selecionar e manipular seus objetos. A solução foi classificar o filme como um docudrama, para aplacar as mentes mais taxonômicas.
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