quinta-feira, 24 de maio de 2018

O REALISMO DE PEIRCE

O REALISMO DE CHARLES SANDERS PEIRCE

C. S. Peirce
Charles Sanders Peirce desenvolve uma Teoria da Realidade que ele denomina de Metafísica, ele parte da Fenomenologia das categorias de pensamentos para saltar depois para as categorias equivalentes no âmbito da Metafísica (a ciência que estuda a essência).


A descoberta de um conceito de Realidade é necessário para compreender-se de que Realidade se fala, quando queremos entender a função epistemológica do Documentário. Em Peirce encontramos uma Realidade composta por um âmbito denominado de Existência e um outro âmbito denominado de Generalidade Eidética (o mundo da idéias externas à mente humana, uma mente do universo). Disso se extrai que sua Metafísica é uma Teoria da Realidade.

No livro Kosmos Noetos: a Arquitetura Metafísica de C. S. Peirce (Ivo Assad Ibri), encontramos a origem do problema entre o Realismo e o Desconstrucionismo da Teoria Cinematográfica, nas discussões escolásticas que ficaram conhecidas como "querela dos universais". Um conceito é apenas um nome mental (conceptus mentis), ou ocorre em uma Realidade Eidética, um pensamento com realidade transcendente à matéria. Essa foi a discussão entre os Realistas e os Nominalistas, que se parece em grande medida com a polêmica entre Teóricos do Cinema de origem Realista e de origem Desconstrucionista.


Assim, finalmente podemos avançar para uma concepção de Realidade, utilizando as idéias de Peirce e visualizarmos um Universo que contém suas ocorrências icônicas, índiciais, e simbólicas, respectivamente associadas às três categorias Ontológicas: a primeiridade, segundidade e  terceiridade.


Abaixo você encontra o link para os slides que foram apresentados em aula com explicações uma pouco mais detalhadas a respeito desse exercício mental de se explicar a complexa Teoria da Realidade de Peirce, cuja posição filosófica pode ser classificada como um Idealismo Objetivo, ou talvez um Realismo Radical.


quarta-feira, 23 de maio de 2018

PEIRCE E SCHELLING: OS DOCUMENTOS DO ABSOLUTO

PEIRCE E SCHELLING - E OS DOCUMENTOS DO ABSOLUTO

A Teoria da Realidade de C. S. Peirce deve muito à filosofia idealista de Schelling, já que Peirce dizia-se "um Schellinguiano de certa estirpe".


Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling
Um aspecto da Realidade Ontológica, para Peirce é um Universo Pensante, o pensamento como substrato para o mundo, que ele denomina generalidade eidédica. Uma mente pensante que se equivale ao Cosmos, da mesma forma que Schelling afirmava, que "A Natureza seria a mente 
tornada visível, e a mente a invisível Natureza.(Schelling apud Ibri, 1994, pag 71). Já que se cita Schelling é pertinente pensarmos no Romantismo e Idealismo Alemão que considerou essa Mente Pensante na forma do Absoluto. Assim o Absoluto para os filósofos do idealismo alemão e os artístas do romantismo alemão tem significado claro, vejam:

"O Romantismo fixou assim o uso dessa palavra tanto como adjetivo quanto como substantivo. Segundo esse uso, a palavra significa "sem restrições", "sem limitações", "sem condições"; e como substantivo significa a Realidade que é desprovida de limites ou condições, a Realidade Suprema, o "Espírito" ou "Deus"(Dicionário de Filosofia - Nicola Abbagnano)


Acredito que fica muito claro a relação que se estabelece com a Mente Cósmica Pensante e o conceito de Absoluto, ou Deus. Por outro lado, além desse aspecto pensante do Cosmos, há também um aspecto existente, que para Peirce significa o âmbito da Realidade no qual as coisas reagem umas sobre as outras. Esse aspecto da Realidade Peirce entende que pode ser denominado de Existência. De um lado a generalidade eidética, o locus do pensamento; de outro a existência, locus da alteridade, da confrontação, do eu conscientizando-se da ocorrência do outro.



Assim o conceito de Realidade para Peirce contém algumas propriedades que devem ser consideradas: ela é Falível, isto é no sentido que mesmo as Leis Determinísticas podem sofrer
variações em sua performance, isto é o princípio criativo que gera as possibilidades, continua atuando nas regularidades de modo que mesmo o determinado pela Lei comporta-se dentro de uma certa regularidade probabilística. Ou seja, no campo eidético, o campo da generalidade, haveria um continuum entre o acaso total e a regularidade total. Portanto os eventos caóticos não regidos por nenhum condicionamento ou hábito, seriam seguidos por uma tendência de aquisição de hábito que amadureceriam os eventos. Encontramos na natureza diferentes formas de determinação do hábito: as leis determinísticas, as leis probabilísticas (ou estocásticas) e (uma descoberta matemática recente) o caos determinístico,  cujos eventos assim regidos não se regem por leis determinísticas e nem por probabilidades, mas uma forma matemática na qual um espaço matemático de estados, atrai os resultados dos eventos para um campo denominado de atrator estranho. Esse é o sentido do Falibilismo de Peirce.

Um Atrator Estranho denominado de Atrator de Lorenz.
A concepção de Peirce a respeito da Realidade supõe uma Realidade em evolução. Uma transformação contínua numa tendência de aquisição dos hábitos, de tornar-se regida por uma Lei. Mas Peirce imagina que mesmo esse tornar-se legaliforme, também é regido por princípios mesmos que regem o pensamento do Absoluto. Assim ele propõe três formas para a evolução: evolução pela ação do Acaso (primeiridade), evolução por ação de uma Necessidade (segundidade) e, finalmente a mais importante, uma evolução pelo Amor (expressão máxima da terceiridade, que ele denomina de Agapismo). Ora essa concepção encontra-se perfeitamente compatível com o Conceito da Evolução através do Design Inteligente. E como não deve ficar dúvidas a respeito De Quê estou falando, assim afirma Peirce: "com relação a Deus, abra seus olhos - e seu coração que também é um orgão dos sentidos - que você O verá." (C.S.Peirce apud Ibri, 1994, pag 80)




Outras informações podem ser obtidas no livro Documentário, Realidade e Semiose, os sistemas audiovisuais como fontes de conhecimento. E no livro de Ivo Assad Ibri, Kosmos Noetos, a Arquitetura Metafísica de  C. S. Peirce.

Ver as postagens anteriores deste blog.

Nos slides apresentados na aula há um resumo dessas ideias e a principal conclusão ao se referir às relações existentes entre  Documentário e Filmes de Ficção.



Se você quiser avançar seus conhecimentos no assunto você pode pode ler sobre o tema no livro que eu indiquei em uma postagem anterior aqui, no livro Documentário, Realidade e Semiose.





Em Documentário Realidade e Semiose os temas abaixo são desenvolvidos nas seguintes páginas:

1-Classificação das Ciências ; Faneron; Fenomenologia e as Categorias mentais; Metafísica ou Teoria da Realidade;  Generalidade e Alteridade; Existência e Realidade.  Livro (73-93); PDF revisado [59 – 72] ;

2-Acaso e lei; Indeterminação Ontológica e Erro de Observação; Probabilismo e Teoria do Caos; Falibilismo; Leis e Evolução do Universo; Hábitos de Conduta; Cosmomorfismo e Antropomorfismo; Idealismo Objetivo; Noêton; Mente, Pensamento e Matéria; Ficção e Documentário; Arte e Primeiridade; Documento do Absoluto; Sinequismo e Continuidade.  Livro (94-102); PDF Revisado [73 – 77]





terça-feira, 24 de abril de 2018

TEORIA DO CINEMA 2

TEORIA DO CINEMA E O DOCUMENTÁRIO 02: FORMALISMO; ACADEMICISMO E DESCONSTRUCIONISMO

Cartaz do Filme Acossado de Jean Luc Godard

As teorias do cinema que sucederam o Realismo de Bazin e o formalismo de Arnheim (dentre outros), buscaram sua inspiração nos filmes do Formalismo Russo e na filosofia de crítica marxista de origem francesa. 

O academicismo de Chritian Metz utilizou conceitos da lingüística e da psicanálise para formular uma teoria acadêmica do cinema. 

O Desconstucionismo de Baudry et all, ideologizou a teoria do cinema importando as ideias de Althusser em relação aos Aparelhos Ideológicos do Estado, e mais tarde, importando a hermenêutica de Derrida.

Essas teorias desencadearam uma profusão de outras teorias críticas e de contracultura, que acabaram por isolar a a possibilidade de uma teoria Realista do Cinema e do Documentário. O Realismo passou a ser considerado como reacionário, conservador e positivista, associando-se a ele um valor negativo.

Robert Stam no livro "Introdução à Teoria do Cinema" explica a situação:  

"... a teoria do cinema, de modo geral, desenvolveu um discurso à esquerda de muitas outras disciplinas tradicionais, não apenas em razão de sua "conexão francesa", (...) mas também em virtude de seu surgimento em paralelo a disciplinas contraculturais como os estudos feministas, os estudos étnicos e os estudos da cultura popular. Como resultado, os estudos de cinema nunca chegaram a ser contaminados pelo conservadorismo reacionário que se havia entrincheirado em campos mais tradicionais como a literatura  e a história." (Stam, R. Introdução à Teoria do Cinema, 2003, pag. 214)

Ainda que essa explicação possa parecer muito bacana para uma cabeça "progressista" ou "revolucionária", o efeito foi devastador para outros tantos documentaristas que acreditavam na possibilidade de representação da realidade no cinema documentário. 

A bem da verdade os documentários continuaram a ser feitos tendo como objetos as coisas do mundo e na pior das hipóteses passou apenas a ser considerado como um dos pontos de vista sobre uma determinada situação real. Mas isso, por si só, no mundo acadêmico dos teóricos, já era motivo para se invalidar a conexão do documentário com o mundo real.

Na continuação vamos observar como resgatar teoricamente a conexão com a realidade, usando como ferramentas teóricas a Semiótica Americana de C.S.Peirce e a Teoria do Umwelt de Jacob von Uexküll.

Abaixo os slides da aula que trata das teorias do cinema:

https://drive.google.com/open?id=0BwRKMh2WAMEUX19WcmZfTlFJejQ
História do documentário, filmes importantes 02

Um dos filmes fundamentais para o Formalismo Russo é o filme de Dziga Vertov intitulado "O Homem com a Câmera de Cinema", um documentário de 1929 que mostra um dia na vida de uma cidade russa. 

Esse filme serviu de inspiração para os cineastas e teóricos franceses da geração desconstrucionista no final da década de 60 e início de 70.

Aqui em uma versão com a música da Alloy Orchestra (1995), existem outras mas eu acho que essa é a melhor música composta para esse filme.

É um ótimo filme, que apresenta a relação entre um cineasta, o documentário e realização do filme.


segunda-feira, 23 de abril de 2018

TEORIA DO CINEMA 1

TEORIA DO CINEMA E O DOCUMENTÁRIO 01: REALISMO E FORMALISMO


Esta postagem apresenta, resumidamente, as polêmicas existentes na Teoria do Cinema, relacionadas à possibilidade de Representação da Realidade pelos Filmes Documentários.





De um lado temos os teóricos que se dedicam ao estudo da forma cinematográfica, e que são chamados de formalistas. Para estes mais interessa a plasticidade das imagens e dos sons. Se o cinema é uma janela para o mundo, os formalistas estariam mais interessados na distorções e reflexos provocados pela disposição oblíqua do vidro dessa janela, do que no objeto
representado.

De outro lado, os teóricos que se dedicam ao estudo do cinema como meio para a redescoberta do mundo físico, estes são denominados de realistas. Para estes interessa como o mundo se apresenta e se faz representar no filme, permitindo que vejamos algo mais, que não percebemos quando olhamos ao mundo sem a intermediação do filme.
O conhecimento dessas posições teóricas a respeito do cinema é necessário para que se obtenha o repertório objetivo para a crítica das teorias sobre documentário, bem como para se compreender quais valores estão em jogo quando se defende uma posição ou outra.
O formalismo no documentário transforma-o em um objeto artístico; o realismo, por outro lado, transforma-o em um instrumento de investigação do mundo.





Para uma visão mais ampla dessas linhas teóricas na Teoria do Cinema é bem interessante a leitura do primeiro capítulo do livro de Philippe Dubois "O Ato Fotográfico". 
Aqui ele expõe as diferentes visões em relação ao realismo fotográfico; o autor localiza 3 grandes grupos de teorias desenvolvidas numa linha de tempo histórico.
De acordo com Dubois, são as seguintes concepções a respeito da Fotografia:
"1) a fotografia como espelho do real, o discurso da mimese, onde se faz referência à semelhança da imagem ao seu referente;
2) a fotografia como transformação do real, o discurso do código e da desconstrução, onde o efeito de realidade seria pura impressão do aparelho de base, não havendo a propalada neutralidade admitida em 1;
3) a fotografia como traço do real, o discurso peirceano do índice e da referência, onde se vê uma espécie de epistemologia em que a fotografia seria um ótimo exemplo, trata-se aqui de um resgate das dimensões de realidade presentes na fotografia."
(Dubois, O Ato Fotográfico, 1994, pag. 26)

Disponível no Capítulo 1 do livro O Ato Fotográfico:
"DA VEROSSIMILHANÇA AO ÍNDICE: Pequena retrospectiva histórica sobre a questão do realismo na fotografia"

https://drive.google.com/file/d/0BwRKMh2WAMEUZW5GYW16SDUzTkk/view?usp=sharing



História do Documentário, filmes importantes 01

Abaixo você encontra o link para o Filme Documentário Nanook do Norte de Robert Flaherty que foi exibido em 1922. Neste filme a polêmica do realismo x formalismo pode ser observada no fato de que o filme foi todo encenado, nas condições reinantes no ambiente gélido no Canadá.


As criticas dos teóricos resume-se ao fato de que isso não é um documentário pois ele foi encenado. As condições ambientais foram as mesmas nas quais os esquimós viviam (pelo menos uma década anterior à produção do filme); a compreensão do quê significa viver nesse lugar não carece de maiores explicações. 
Se a encenação fosse um diferencial para excluir-se um filme de sua  condição documental, seríamos obrigados a considerar de ficcional toda a produção científica que necessita selecionar e manipular seus objetos. A solução foi classificar o filme como um docudrama, para aplacar as mentes mais taxonômicas.






Nanook do Norte é um documentário de encenação, um dos mais importantes filmes da história dos documentários.

sábado, 1 de julho de 2017

PERSPECTIVA ARTIFICIAL E DILATAÇÃO DO UMWELT

PERSPECTIVA ARTIFICIAL E DILATAÇÃO DO UMWELT

O tema da Perspectiva Artificial é objeto desta investigação pois nos anos 1968/1969, os marxistas franceses, preocupados com a utilização do cinema como um aparelho ideológico do
estado, encontraram uma forma teórico-ideológica de explicar essa ação do cinema em função da utilização da perspectiva artificial na fotografia. Todos sabemos que a perspectiva das imagens fotográficas aparece automaticamente devido à convergência dos raios luminosos promovida pelas lentes utilizadas nas objetivas e, claro, como consequência do fenômeno de formação das imagens
no fundo de uma câmara escura.

Todavia, aqueles autores, desconfiados de tudo que a humanidade desenvolvera desde o Renascimento, inventaram que a técnica da perspectiva não passava de uma metáfora bem escondida que reafirmava a centralidade do poder nas mãos da burguesia nascente no período renascentista. Portanto ao vermos qualquer fotografia ou filme estaríamos invariavelmente sendo submetidos a uma "lavagem cerebral" reafirmando o poder da burguesia... (argh!) 


Albrecht Dürer, xilogravuras de 1525, do seu 
tratado sobre perspectiva "Unterweisung der Messung".
Mas, e se a perspectiva surgiu como uma forma eficiente de representação do espaço tridimensional em um espaço bidimensional? E se sua "invenção" não fosse uma invenção e sim uma descoberta ?


O fato é que depois dela as representações espaciais tornaram-se bem mais eficientes. Permitiram o compartilhamento coerente de informações a respeito dos espaços e de seus atributos de ambientes longínquos para um sem número de observadores. Eficiência, compartilhamento, coerência não podem ser efeitos menores que uma suposta "lavagem cerebral", não?


A descoberta da perspectiva é decorrente de uma atividade experimental. Vários autores citam a utilização de uma máquina rudimentar denominada TAVOLETTA, usada em atividades arquitetônicas, tendo sido utilizada por Filippo Brunelleschi (1387-1446) em Florença, na construção da cúpula da igreja de SantaMaria del Fiore. Foi Leon Battista Alberti (1404-1472), quem estruturou a teoria que organizou os procedimentos técnicos da perspetiva artificial.




A utilização da Tavoletta para comparar os projetos arquitetônicos com o local da construção



Igreja de Santa Maria del Fiore - Florença - Itália
Os fatos demonstram que a proposição dos teóricos marxistas é no mínimo mal intencionada, pra dizer o mínimo. Além disso se o que eles disseram fosse verdade seria muito difícil obter-se uma objetividade minimamente necessária em um documentário. Mesmo se considerarmos as "deformações" que a perspectiva promove nos objetos, ou ainda o ponto de vista monocular (afinal somos seres binoculares); mesmo assim podemos afirmar que tudo está perfeitamente adequado ao modo de funcionamento do globo ocular e da percepção do espaço visual pelo cérebro.





A Teoria do Umwelt pressupõe que a espécie humana é adaptável e que isso se dá por aprendizagem. O que estou afirmando é que nossa espécie é capaz de DILATAR O UMWELT, ou seja, incorporar novos signos ao seu Umwelt dando maior sentido às informações que recebemos constantemente. Ora, nesse aspecto, o compartilhamento de informações visuais coerentes entre indivíduos da mesma espécie é condição necessária para ocorrer a Dilatação no Umwelt da espécie e não somente de um indivíduo privilegiado que estava objetivamente à frente do objeto representado pela perspectiva artificial.

A Fotografia e o Filme, também reproduzem a perspectiva artificial porque ela é resultado de leis físicas, que atuam tanto dentro dos olhos como também dentro das câmeras. Uma pergunta aparece imediatamente,seria possível considerarmos uma Dilatação do Umwelt no período renascentista ? Parece que hipoteticamente poderíamos responder que sim. As representações visuais ganharam profundidade (mais complexidade) quando comparamos o final do Renascimento
já no Barroco com as imagens da Idade Média. O mesmo acontece com a Música que ganha múltiplos planos sonoros.

COMPARE 



Iluminura Leão X e corte ~ 1260

Cantigas de Sta Maria 

Afonso X o sábio 1221 - 1284





Caravaggio A ceia em Emaús 1601 
Concerto Brandenburgo 6 Alegro F de Johann Sebastian Bach 1625 - 1750




O assunto não se esgota aqui. Se tiver interesse em se aprofundar mais no assunto de modo a dissolver algumas dúvidas, verifique os slides dessa aula:




Nos slides acima encontramos um link para uma outra sequência de slides denominada indutores de percepção de profundidade que pode ser vista aqui:



Se você quiser avançar seus conhecimentos no assunto você pode pode ler sobre o tema no livro que eu indiquei em uma postagem anterior aqui, no livro Documentário,Realidade e Semiose.




Em Documentário Realidade e Semiose os temas abaixo são desenvolvidos nas seguintes páginas:

4- Representação do Espaço Tridimensional e a Perspectiva Artificial; A perspectiva como lei – 
terceridade; Suporte Morfofisiológico da Visão Humana e a Perspectiva; o conceito de “Plano-mais-distante” de Uexküll; o Caso do pigmeu e dos búfalos; Deformações dos Objetos e Representação do Espaço Tridimensional; a Perspectiva Isométrica e o Palazzo Spada; Perspectiva e Coerência com o Umwelt humano; a Renascença e a Dilatação do Umwelt Humano; Fotografia, Cinema e Televisão. Livro (135 – 145); PDF revisado [ 99 – 105]

sexta-feira, 30 de junho de 2017

EVOLUÇÃO HUMANA E UMWELT

EVOLUÇÃO HUMANA e UMWELT


Meu objetivo é demonstrar que o DOCUMENTÁRIO está relacionado ao  UMWELT humano, como uma forma de extravasamento de imagens e ideias elaboradas a respeito da sociedade, do ambiente, do cosmos.


A espécie humana tem um dos Umwelten mais complexos que conhecemos. A espécie Homo sapiens surgiu há uns 100 mil anos atrás com a subespécie neahandertalensise somente há 
30/40 mil anos surgiram as pinturas em cavernas, apontando para uma grande atividade simbólica feita pelos Homo sapiens sapiens.


Desenhar em cavernas não é uma simples atividade artística, ou melhor, é uma  atividade por demais complexa. Há uma elaborada sofisticação em colocar para fora do cérebro, daqueles homens pré-históricos, as imagens que existiam apenas no pensamento de cada um deles. Os estudos indicam que a linguagem verbal falada já era suficientemente bem elaborada, o suficiente para terem uma atividade simbólica também complexa. 



Parece que o próprio Umwelt começa a se configurar externamente, de forma objetiva, permitindo o  compartilhamento até mesmo das imagens mentais com outros indivíduos.





Caverna francesa Chauvet-Pont d’Ar (36.000)
A questão é que essa comunicação através de imagens ou padrões de figura/fundo, não é uma exclusividade humana. Claro que, dados os devidos descontos, outros animais também se comunicam através de padrões de design corporal; ou mesmo através da produções de luz artificial como os vagalumes. A Natureza é sábia o suficiente para permitir o surgimento de aspectos que são outras soluções de um mesmo tipo de problema comunicacional.



Vagalumes são um tipo de Besouro (Coleópteros) a luz é 
produzida por células denominadas "Fotóforos" 
Neste vídeo podemos ver a ação de um tipo de célula que dá cor à pele de vários animais, nos cefalópodes (polvos, lulas, sépias) essas células são capazes, além de modificar o padrão de formas na pele, comunicar estados comportamentais desses seres.





Quando observamos mais detalhadamente podemos perceber que não se trata de uma modificação reflexa, apenas, mas também uma ação controlada pelo sistema nervoso central.





Ora o Universo Pensante, Absoluto, Natur, ou Deus, (você escolhe) já pensou a comunicação por imagens luminosas, antes de pensar o ser humano. Não quero com isso dizer que é tudo a mesma coisa, mas trata-se de uma solução para o mesmo tipo de problema comunicacional. Veja no próximo vídeo as diferentes formas de comunicação através de exibição plumária que podemos observar em aves.




Mas voltemos aos seres humanos. Desde o surgimento dos Australoptecíneos (literalmente macacos do sul), há 2,75 milhões de anos, há um aumento da caixa craniana que vai dobrando a cada milhão de ano. 


Australoptecíneo 2,75 milhões de anos
Isso se observa no gráfico abaixo que utiliza as medidas de volume craniano de fósseis relacionados à origem do gênero Homo.

Aumento da capacidade craniana nos hominídeos
(y = centímetros cúbicos ; x = milhões de anos)
Não é difícil perceber que essa curva tende assintoticamente ao infinito. Portanto do ponto de vista biológico haveria um limite lógico a essa expansão. O fato que muitos dos estudiosos apontam é que as informações passariam a ser armazenadas extra-somaticamente, isto é, fora do corpo. Assim como há 30/40 mil anos o Homo sapiens começou a desenhar em paredes
de caverna, há 4/5 mil anos começou a inscrever em placas de barro cozido, informações a respeito de rebanhos, contabilidade de mantimentos, etc. Era a escrita cuneiforme (em forma de cunha) que fora inventada, e a partir da qual houve a enorme expansão da memória extra-somática que temos observado: bibliotecas, computadores, internet...


Pinturas Rupestres há 30/40 mil anos 

Revolução Agrícola há 10/12 mil anos

Placa de argila com escrita cuneiforme há 4/5 mil anos.
Assim parece que a Dilatação do Umwelt é uma tendência do processo evolutivo da espécie humana de modo que cada vez mais iremos experienciar o aumento da quantidade de informações, o desenvolvimento de uma memória extra-somática que se torna cada vez mais complexa. 


Graças ao trabalho de paleo-artistas, é possível a reconstituição dos aspectos visuais de hominídeos já extintos. E objetivamente se alguns deles cortassem o cabelo, e colocassem um chapéu para esconder a proeminência de seus supercílios, seria possível encontrá-los em qualquer ônibus por aí, e nem perceberíamos sua diferença com os atuais seres humanos. Abaixo um pequeno vídeo apresentando o trabalho de um desses paleo artistas: Viktor Deak






O que nos interessa é que as ferramentas fabricadas pelos seres humanos são mesmo extensões do corpo humano como dizia o Marshall McLuhan em "Os meios de Comunicação como Extensões do Homem". Ou como anteriormente dizia Jacob von Uexküll, quando citava
microfones, auto-falantes, dentre outras ferramentas.


Mais detalhes você pode encontrar nos slides das aulas a respeito de Evolução Humana e Umwelt.



Se você quiser avançar seus conhecimentos no assunto você pode pode ler sobre o tema no livro que eu indiquei em uma postagem anterior aqui, no livro Documentário,Realidade e Semiose.





EVOLUÇÃO HUMANA, DILATAÇÃO DO UMWELT E PRÓTESES AUDIOVISUAIS; 


1- O conceito de Evolução; Próteses Audiovisuais; Teoria Endossimbiótica da Evolução Celular; 

Mixotricha paradoxa; Hipótese Gaia; o conceito de Co-evolução; Ferramentas e Co-evolução; o caso Pagurus; os Antropóides e a Evolução do gênero Homo; Tecnologia e Arte no gênero Homo; Homo erectus, Homo habilis e Homo sapiens.  Livro (146 – 156); PDF Revisado [106 – 113]  


2- Atividade Simbólica do Homo sapiens sapiens; Dilatação do Umwelt e aumento do volume cerebral; Memória extra-somática; Sistemas audiovisuais como extensões do corpo humano; Entropia e Informação Média; Gaia e a Evolução Humana; Comunicação Luminosa e Imagética nos seres vivos; Vagalumes, Cefalópodes Caracídeos; Aves e bailados nupciais; A Ação da Gramática do Universo sobre os seres vivos; Processadores gramaticais de discursos audiovisuais e dição não-linear. Livro (157 – 166); PDF Revisado [114 – 119] 



3- O Computador como Extensão do Cérebro Humano; Co-evolução entre Computador e Espécie Humana; Mão e Evolução Humana; Mão-Olho e as Interfaces Tecnológicas; “Interest and Emotion Sensitive Media”;  Livro (167 – 174); PDF Revisado [115 – 124]











segunda-feira, 26 de junho de 2017

UMWELT E O CICLO FUNCIONAL

UMWELT E O CICLO FUNCIONAL

A Teoria do Umwelt contém variadas considerações a respeito de como ele funciona. Mas consideremos por um instante este curioso caso de co-evolução entre vespas e
orquídeas.


As flores de Cryptostylis parecem com fêmeas de certas vespas. Os machos das vespas eclodem um pouco antes das fêmeas e nesse período as flores aproveitam-se enganando o Umwelt dos zangões. Esses machos são atraídos pelas flores e tentam copular com elas.







Sempre acreditei que as histórias naturais acabam sendo mais surpreendentes do que qualquer ficção cuidadosamente elaborada.


Com este caso desses zangões enganados e "envergonhados", é possível analisar-se o efeito do CICLO FUNCIONAL, conforme a predição da Teoria do Umwelt de Jacob von Uexküll.



CICLO FUNCIONAL
A explicação é a seguinte: o ciclo pode ser dividido em quatro partes ou quatro momentos. O lado direito é o lado do objeto que é percebido pelo sujeito ( o zangão). Existe ainda outra subdivisão entre a parte de cima, denominada de Campo Perceptivo, e a parte de baixo denominada de Campo Motor.


O funcionamento é o seguinte: O sujeito "arpoa" o objeto com um orgão sensorial e "pega" a parte portadora da conexão perceptiva do objeto. O sujeito recebe emprestadas as qualidades do objeto. Mas isso não é suficiente para a conclusão e a produção completa de sentido para o sujeito. Assim a parte motora do sujeito também precisa "arpoar" o objeto utilizando um orgão efetor. Ao fazer isso o próprio objeto fecha o ciclo de significação de modo que aquilo que

o sujeito percebeu do objeto é apagado pela ação motora e um novo ciclo funcional é iniciado. O resultado é que o zangão vai às últimas consequências tentando fecundar a fêmea de araque que a Cryptostylis "criou" na forma e na modelagem de sua flor.

E a espécie humana? A espécie humana também possui seu Umwelt, e certamente é um Umwelt muito complexo. Todavia a principal diferença parece-me que é sua capacidade de dilatação. Sim, dilatação, ampliação, que significará a incorporação de novos signos à medida em que novas descobertas científicas são feitas, à medida em que novos conhecimentos são produzidos pelas diferentes formas de produção de conhecimento tais como observadas na arte e na religião.


Consideremos o caso da navegação por campo elétrico como observamos nos peixes elétricos (poraquê amazônico).




Esse animal é capaz de gerar um campo elétrico ao seu redor, e também é capaz de perceber as modificações do campo elétrico provocado por obstáculos dentro da água. Veja o filme abaixo:



Os seres humanos criam seus campos eletromagnéticos e podem utilizá-los com igual eficiência para a navegação aérea, no aparelho que vulgarmente se denominou de radar.


Se utilizarmos o Ciclo Funcional de Uexküll para representarmos a capacidade do ser humano de criar teorias ou modelos poderíamos visualizar o seguinte esquema integrado ao ciclo funcional.




Assim a Teoria ou Modelo do objeto permitem a criação de ferramentas mentais que saberiam lidar com o objeto, fechando o ciclo de retroalimentação no âmbito do mundo perceptivo. Mas o fundamental é que a Teoria ou Modelo teria que ser coerente com o objeto de modo a incorporar todas as características que o objeto possui. Por isso considera-se que o Método Científico é uma coleção de ferramentas mentais que permitem ao ser humano acessar a Realidade.

Se quiser mais informações abaixo encontra-se o link para os slides usados em aula.



No próximo post veremos alguns aspectos da Dilatação do Umwelt no caso da evolução da espécie humana. 

Se você quiser avançar seus conhecimentos no assunto você pode pode ler sobre o tema no livro que eu indiquei em uma postagem anterior aqui, no livro Documentário, Realidade e Semiose.



Em Documentário Realidade e Semiose os temas abaixo são desenvolvidos nas seguintes páginas:


3-Ciclo funcional (functional cicle); Signo Perceptivo e Sugestão Perceptiva; Signo Operacional e Sugestão Operacional; O conceito de Retro-alimentação; Drama e a organização sintática dos Ciclos Funcionais; Uma Gramática do Mundo; A Dilatação do Umwelt e a Evolução Humana; Ciência e Permanência; Elaboração Sígnica e Dilatação do “Umwelt”; Signos complexos e a Complexidade; Coerência e  Repesentação da Realidade. Livro (124 – 134); PDF Revisado [92 – 98]