sábado, 1 de julho de 2017

PERSPECTIVA ARTIFICIAL E DILATAÇÃO DO UMWELT

PERSPECTIVA ARTIFICIAL E DILATAÇÃO DO UMWELT

O tema da Perspectiva Artificial é objeto desta investigação pois nos anos 1968/1969, os marxistas franceses, preocupados com a utilização do cinema como um aparelho ideológico do
estado, encontraram uma forma teórico-ideológica de explicar essa ação do cinema em função da utilização da perspectiva artificial na fotografia. Todos sabemos que a perspectiva das imagens fotográficas aparece automaticamente devido à convergência dos raios luminosos promovida pelas lentes utilizadas nas objetivas e, claro, como consequência do fenômeno de formação das imagens
no fundo de uma câmara escura.

Todavia, aqueles autores, desconfiados de tudo que a humanidade desenvolvera desde o Renascimento, inventaram que a técnica da perspectiva não passava de uma metáfora bem escondida que reafirmava a centralidade do poder nas mãos da burguesia nascente no período renascentista. Portanto ao vermos qualquer fotografia ou filme estaríamos invariavelmente sendo submetidos a uma "lavagem cerebral" reafirmando o poder da burguesia... (argh!) 


Albrecht Dürer, xilogravuras de 1525, do seu 
tratado sobre perspectiva "Unterweisung der Messung".
Mas, e se a perspectiva surgiu como uma forma eficiente de representação do espaço tridimensional em um espaço bidimensional? E se sua "invenção" não fosse uma invenção e sim uma descoberta ?


O fato é que depois dela as representações espaciais tornaram-se bem mais eficientes. Permitiram o compartilhamento coerente de informações a respeito dos espaços e de seus atributos de ambientes longínquos para um sem número de observadores. Eficiência, compartilhamento, coerência não podem ser efeitos menores que uma suposta "lavagem cerebral", não?


A descoberta da perspectiva é decorrente de uma atividade experimental. Vários autores citam a utilização de uma máquina rudimentar denominada TAVOLETTA, usada em atividades arquitetônicas, tendo sido utilizada por Filippo Brunelleschi (1387-1446) em Florença, na construção da cúpula da igreja de SantaMaria del Fiore. Foi Leon Battista Alberti (1404-1472), quem estruturou a teoria que organizou os procedimentos técnicos da perspetiva artificial.




A utilização da Tavoletta para comparar os projetos arquitetônicos com o local da construção



Igreja de Santa Maria del Fiore - Florença - Itália
Os fatos demonstram que a proposição dos teóricos marxistas é no mínimo mal intencionada, pra dizer o mínimo. Além disso se o que eles disseram fosse verdade seria muito difícil obter-se uma objetividade minimamente necessária em um documentário. Mesmo se considerarmos as "deformações" que a perspectiva promove nos objetos, ou ainda o ponto de vista monocular (afinal somos seres binoculares); mesmo assim podemos afirmar que tudo está perfeitamente adequado ao modo de funcionamento do globo ocular e da percepção do espaço visual pelo cérebro.





A Teoria do Umwelt pressupõe que a espécie humana é adaptável e que isso se dá por aprendizagem. O que estou afirmando é que nossa espécie é capaz de DILATAR O UMWELT, ou seja, incorporar novos signos ao seu Umwelt dando maior sentido às informações que recebemos constantemente. Ora, nesse aspecto, o compartilhamento de informações visuais coerentes entre indivíduos da mesma espécie é condição necessária para ocorrer a Dilatação no Umwelt da espécie e não somente de um indivíduo privilegiado que estava objetivamente à frente do objeto representado pela perspectiva artificial.

A Fotografia e o Filme, também reproduzem a perspectiva artificial porque ela é resultado de leis físicas, que atuam tanto dentro dos olhos como também dentro das câmeras. Uma pergunta aparece imediatamente,seria possível considerarmos uma Dilatação do Umwelt no período renascentista ? Parece que hipoteticamente poderíamos responder que sim. As representações visuais ganharam profundidade (mais complexidade) quando comparamos o final do Renascimento
já no Barroco com as imagens da Idade Média. O mesmo acontece com a Música que ganha múltiplos planos sonoros.

COMPARE 



Iluminura Leão X e corte ~ 1260

Cantigas de Sta Maria 

Afonso X o sábio 1221 - 1284





Caravaggio A ceia em Emaús 1601 
Concerto Brandenburgo 6 Alegro F de Johann Sebastian Bach 1625 - 1750




O assunto não se esgota aqui. Se tiver interesse em se aprofundar mais no assunto de modo a dissolver algumas dúvidas, verifique os slides dessa aula:




Nos slides acima encontramos um link para uma outra sequência de slides denominada indutores de percepção de profundidade que pode ser vista aqui:



Se você quiser avançar seus conhecimentos no assunto você pode pode ler sobre o tema no livro que eu indiquei em uma postagem anterior aqui, no livro Documentário,Realidade e Semiose.




Em Documentário Realidade e Semiose os temas abaixo são desenvolvidos nas seguintes páginas:

4- Representação do Espaço Tridimensional e a Perspectiva Artificial; A perspectiva como lei – 
terceridade; Suporte Morfofisiológico da Visão Humana e a Perspectiva; o conceito de “Plano-mais-distante” de Uexküll; o Caso do pigmeu e dos búfalos; Deformações dos Objetos e Representação do Espaço Tridimensional; a Perspectiva Isométrica e o Palazzo Spada; Perspectiva e Coerência com o Umwelt humano; a Renascença e a Dilatação do Umwelt Humano; Fotografia, Cinema e Televisão. Livro (135 – 145); PDF revisado [ 99 – 105]

Um comentário:

  1. Caro Hélio,

    Satisfação escreve-lo. Me chamo Rodrigo Melo, sou Analista de Sistemas e entusiasta de Segurança da Informação. Atualmente faço mestrado pela Universidade Federal da Bahia - UFBA e pretendo "encontrar" um diálogo entre áreas totalmente antagônicas na computação Interação Humano-Computador (IHC) e Segurança da Informação, através de um arcabouço teórico que provavelmente seja a Teoria de Umwelt (vindo da Semiótica). Vi que conhece bastante a respeito e gostaria de saber se poderia me ajudar de alguma forma. Meu e-mail da universidade é rodrigom@ufba.br. Ficaria muito grato caso pudesse me ajudar de alguma forma.

    Desde já agradeço antecipadamente.

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